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Erros e acertos: tradições e transgressões familiares

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Cara ou Coroa? Toda moeda tem dois lados que podem se alternar de tempos em tempos. A maternidade e paternidade podem ser uma dádiva, realizadora e prazerosa, mas também vêm acompanhadas de situações, sentimentos e comportamentos desconfortáveis e ambíguos. Questionamentos surgem, discussões e desacordos se instalam – entre pais e destes para com os filhos – provocando, inquietações e dúvidas constantes para ambos os lados, principalmente quando se quer medir o certo e o errado, o bom e o ruim.

Quando erramos encontramos a oportunidade para entender e avaliar o que é certo e vice-versa. Neste sentido, todo acerto e erro nos servem para o crescimento, aprendizado e mudanças. Da mesma maneira, costumes e hábitos tradicionais – tidos como certos e transmitidos de geração em geração – se registram diante de uma traição e transgressão deles. Tradições vêm para a preservação do status quo, para a sobrevivência da sociedade e de um coletivo (família, casamento, etc). Toda traição – vista como erro e também como pecado no sentido moral-religioso – está ligada a uma transgressão desta normatização já imposta.

Grandes traições se manifestam nas relações familiares. O transgressor rompe com uma estrutura tradicional, propõe outras leis e outras regras, passa a ser visto como errado e suas atitudes são contestadas e inaceitáveis. Crianças desobedecem, deixam os pais irritados, precisando falar mais de mil vezes a mesma coisa. Na escola ou em casa a indisciplina aparece e pais, em sua maioria, ficam chateados e/ou preocupados, tentando entender o que está acontecendo, sem falar na frustração que se instala. Indisciplina por falta de limites, para chamar a atenção, por falta de conhecimento ou apenas por um simples questionamento de uma lei ou regra imposta que a criança está querendo entender? Quantos pais se baseiam em tradições inquestionáveis para educar seus filhos e trazem consigo conceitos que ditam como imutáveis dentro de um movimento onipotente – narcísico – e sufocante de serem os detentores da verdade e daquilo que é correto. E se alguém se atrever a sair fora desta ordem – trair – está errado, o julgamento e a repreensão ocorrem e a culpa pode aparecer. Quantas pessoas crescem com culpas que não lhes pertencem.

Certo e errado falam de situações relativas e não absolutas e recebem influência direta do ambiente e da relação com as pessoas, podendo surgir brigas e disputas. Há um desencontro natural de desejos, expectativas e objetivos para que, em seguida, haja acertos individuais e familiares. Pais e crianças transgridem no sentido de irem a busca de uma assertividade. Se há entendimento, conversa respeitosa – olhando os dois lados da moeda – torna-se um acerto. O “erro” surge diante de uma violação e postergação de uma resolução ou submissão do que é imposto pelo outro, sem possibilidade de questionamentos. Há “erros” que são repetições, mesmices, que impedem sair do lugar; ficamos apegados a certezas imparciais e somos enganados por elas. Quantas crianças – e adultos também – na eminência de um “erro”, são podadas em suas experiências de aprendizagem.

Toda transgressão é positiva quando ligada ao compromisso com a preservação, com a evolução e construção de identidade, mas também, com as mudanças e novos acordos entre pais e deles com os filhos. É impossível mudar sem se expor ao “erro” e estas mudanças não se concretizam quando detectadas como sendo errôneas. Transcender é estar em constante movimento de aprendizado e descoberta de valores sociais, mas também individuais, que garantem a nossa existência enquanto indivíduos. Filhos nem sempre cumprem com o que é esperado pelos pais, com o que é convencional ou conveniente, mas, em busca de sua individualidade e evolução, abrem mão do que é “certo” para fazer o que é bom para si. Pais precisam entender e, com respeito, orientar.

Assim, acertamos quando estamos conectados a uma coerência e integridade de vida, sem culpa, sem falso moralismo. Erramos quando ficamos vinculados a uma passividade diante daquilo que pode ser mudado para melhor – evolução da pessoa e do social como um todo.

Certo e errado definem limites para a conduta humana e devem ser analisados dentro de um contexto legítimo, e não somente sobre a ótica dos outros, senão passa a ser equívoco, pois só se enxerga a forma e não a essência, a roupa que se veste e não quem está dentro dela. Quando os olhos não veem além de si, há um choque como um raio de luz capaz de cegar momentaneamente, tomando tudo que vem do outro como desobediência e indisciplina.

Baseados em erros e acertos, mães e pais aprendem com seus filhos e vice-versa, tentando buscar a dose certa e o equilíbrio. Eis o mais difícil: o equilíbrio, que ao desequilibrar aprende-se a equilibrar novamente, como uma balança que algumas vezes pende para um lado e depois para outro.


Arquivado em:família Tagged: aprendizagem, brigas e disputas, castigo e punição, compreensão, crescimento, culpa, transgressão

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